História

Carlota Joaquina – Wikimedia Commons

A INTIMIDADE ARDILOSA DE CARLOTA JOAQUINA
Carlota Joaquina era conhecida somente como Carlota e vivia uma infância travessa e brincalhona. Mas a princesa filha do rei espanhol Carlos IV estava predestinada a um futuro de camaleoa, dividida entre dois países — a Espanha, claro, mas também Portugal. Para selar os laços com esse último, ela teve a meninice interrompida, ao se casar aos 10 anos de idade.

A criança virou esposa em 25 de abril de 1775, do príncipe de Portugal, D. João, que tinha seus 18 anos. Isso soa como — e de fato é — pedofilia. Mas, naquela época, tratava-se de um acordo político: uma aliança para que os países se recuperassem, em um momento de crise e perda de centralidade no cenário europeu.

A menina ossuda, mais tarde, ganhou fama de Megera de Queluz, sendo odiada na corte portuguesa. E seu casamento arranjado com o barrigudo D. João foi um fiasco. Para começar, o festejo de bodas, que aconteceu no dia 9 de junho, foi turbulento. Carlota tinha temperamento forte, para se dizer o mínimo.

Durante a lua de mel, ela teria agredido o marido com uma dentada. Ao longo do casamento com o príncipe de Portugal, a garota também não foi nenhuma esposa submissa. Aos olhadores do povo, ela era uma mulher promíscua que tentava influenciar o cônjuge a favor das ambições da coroa espanhola.

Seu defeito mais conhecido seria que Carlota era supostamente adúltera, tal como a mãe, Maria Luísa de Parma — a rainha que traía o marido, o Rei Carlos IV de Espanha, com o primeiro-ministro, Manuel Godoy.

D. João VI e Carlota Joaquina / Crédito: Wikimedia Commons

Em meio às traições no casamento, Carlota e D. João tiveram 9 filhos, sendo o mais famoso dele D.Pedro I, que se tornaria  Imperador do Brasil e Rei de Portugal. A questão é que muito se tinha dúvidas sobre quais dos filhos eram legítimos ou frutos do adultério.

No livro D. João VI, de Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa, há um parágrafo que põe em dúvida a paternidade de seis dos noves filhos do monarca marido de Carlota Joaquina. “Parece que D. Pedro, D. Isabel Maria eram indubitavelmente seus. D. Ana é talvez o primeiro fruto de João dos Santos [um jardineiro]. D. Maria Francisca é filha de Luiz da Motta Feo”, escreveu.

A obra diz ainda que D. Miguel não era herdeiro legítimo, mas na verdade filho do Marquês de Marialva; D. Maria da Assunção, era por sua vez, fruto de uma relação de Carlota com João dos Santos. E pior: acerca dos outros filhos da princesa, nem se quer se sabia quem era o pai.

Os planos de Carlota

Por outro lado, a fama de adúltera da Megera de Queluz é tratada de modo diferente no livro Memórias de Carlota Joaquina, a amante do poder, do historiador argentino Marsilio Cassotti. Ele defende que a esposa de D. João era alvo na verdade de uma campanha negativa do governo português e do governo inglês.

Ela teria ficado conhecida como infiel, em uma tentativa de seus rivais de difamá-la. Os rumores surgiram logo após a ambiciosa Carlota ter elaborado um golpe para derrubar o próprio marido.

O plano surgiu enquanto D. João se tornou príncipe regente. Em 10 de fevereiro de 1792, a doença mental de D.Maria I, apelidada de “a Louca”, entregou a regência nas mãos do príncipe. Mais tarde, Carlota Joaquina tentou tomar o poder.

Retrato de Carlota Joaquina / Crédito: Wikimedia Commons

Em 1805, enquanto D. João ainda estava em Portugal, o regente descobriu a conspiração tramada por sua esposa. Ela, com o apoio de nobres e eclesiásticos, queria declará-lo incapaz. Acabou não dando certo.

Além disso, como o país natal de Carlota, a Espanha, estava sob o poder de Napoleão, a família dela foi aprisionada. O plano da mulher astuciosa era, então, governar as colônias espanholas, se transformando na rainha do Rio da Prata. Como já sabemos, o projeto fracassou.

Embarque para o Brasil e exílio

Portugal também foi ameaçada pelas tropas napoleônicas e em 1807 a família real foi obrigada a embarcar para o Brasil. Carlota se viu forçada a ir junto de D. João e os filhos até o Rio de Janeiro. Por lá, morou longe dele, em locais mais bucólicos, como Botafogo. Os dois só se encontravam durante solenidades, tamanho o climão.

Em 1820, devido à Revolução do Porto, eles tiveram que voltar à Portugal, mas nem assim Carlota desistiu do golpe. Em uma manobra chamada Conspiração da Rua Formosa, ela tentou fazer o rei abdicar e destruir a constituição. Após várias tentativas, mais uma vez, o estratagema falhou devido à boa base política de D. João.