História

Princesa Isabel – Biblioteca Nacional

AS ANGÚSTIAS DA PRINCESA ISABEL
Dona Isabel foi uma figura única da monarquia brasileira, e possivelmente a herdeira do trono numa eventual morte de Dom Pedro II ainda no poder — o que não aconteceu, diante da monarquia. Segundo a historiadora Regina Echeverria, em entrevista à BBC, a filha do imperador era uma “mulher bem humorada”, além de “determinada e apaixonada pelo marido, com personalidade forte […], mandona, leonina”. Porém, isso não impediu que sua vida fosse marcada por angústias e infelicidades, principalmente por acabar num exílio.

Baixinha e de olhos azuis, sua face era marcada pela ausência de sobrancelhas. Próxima à irmã, Leopoldina, teve seu casamento arranjado em meio a negociações mútuas que a envolveram. Dom Pedro mandara emissários à Europa no intuito de encontrar maridos para ambas ao mesmo tempo. Inicialmente, foi cogitado um matrimônio com o Príncipe de Joinville, sem sucesso.

Então, foi acordado que Isabel se casasse com Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, e sua irmã se casaria com Dom Gastão, o conde D’Eu. Porém, ao conhecerem os pretendentes, perceberam que os afetos apontavam uma inversão: Isabel preferia o aristocrata francês. Porém, Gastão chegou a descrever ambas as moças como “feias”, achando Isabel menos bonita que Leopoldina. Acabaram casando em 1864, no Rio de Janeiro.

Família de Isabel / Crédito: Wikimedia Commons

Apesar de a simpatia do pai em levá-la a compromissos oficiais, a vida de Isabel foi marcada pelo ambiente doméstico. Ela tinha pouco espaço, mas mesmo assim desenvolveu um hábito fugaz pela leitura.

A visita à Europa do casal, em 1865, ocorreu puramente como civil: o Brasil, por insistir no apoio ao tráfico negreiro, cortara relações com a Inglaterra. Além disso, a família de Gastão havia sido expulsa da França. Logo depois do retorno ao Rio de Janeiro, Isabel passou por uma fase solitária: o Imperador convocara Gastão a participar da Guerra do Paraguai.

Com o fim da guerra, em 1870, eles voltaram a viajar à Europa, onde mais um episódio abalou sua vida íntima. Em Viena, visitando a irmã que deixara o Brasil, ela teve de lidar com a súbita morte de Leopoldina, que adoecera em 1871. O trágico acontecimento entristeceu Isabel, que se tornou a única filha viva de Dom Pedro II.

Triste e com um sentimento de solidão, ela e o marido voltaram ao Brasil. Três anos depois, ela ficaria grávida pela primeira vez, mas numa situação que levara a mais um trauma. Seu primeiro trabalho de parto na vida durou cerca de 50 horas, causando imensa dor, e resultando na morte do bebê.

A princesa Isabel do Brasil – Wikimedia Commons

A menina, que faleceu antes do nascimento, foi mais uma da linhagem dos Bragança que teve o duro destino antes de sair da infância. O parto fora muito duro e doloroso, sem anestesias, como relata Cleomenes Simões na obra Os partos da Princesa Isabel. O fato foi mais um abalo psicológico na aristocrata, que também vivia com um peso criado pela herança do poder, que era não só incomum na época — no Brasil, não havia direito ao trono a mulheres — como também marcado por contradições.

No ano seguinte, ela seria agraciada com o primeiro filho, Pedro de Alcântara. Depois, ainda teria mais dois: Luís e Antônio Gastão, mas o ocorrido da natimorta e o primogênito deficiente trouxeram grande amargura à princesa.

Outro momento de grande pesar na vida de Isabel se deu a partir do final dos anos 1880. Como herdeira, ela assumia o comando do governo nas diversas visagens (muitas delas por puro entretenimento) do pai. Numa dessas situações, ocorreu a famosa assinatura da Lei Áurea. Porém, com a crise da monarquia, Dom Pedro II sofreu um golpe em 1889, partindo para o exílio na Europa.

Passando a viver na França, Isabel sofreu muito com o distanciamento da terra natal. Assim como o pai, ela adorava o Brasil e, por isso, o exílio teve grande peso no seu psicológico, deprimindo a ex-princesa. Ela vivia relatando a vontade de retornar, mas sempre com um ponto de vista puramente civil, não política (ela deixou bem claro que não queria mais se envolver em movimentos).

Gravura da Família Imperial no exílio / Crédito: Wikimedia Commons

Em constante comunicação com os monarquistas do Brasil, Isabel se recusou a participar de qualquer iniciativa der retomada do regime na recente República Brasileira. Magoada e deprimida, ela queria saber como estava a situação dos brasileiros constantemente, mas muitas vezes barravam a verdade humilhante e entretecedora do cenário político de lá. Mais um abalo ocorreu na década de 1910, pois dois de seus filhos (Antônio e Luís) morreram na frente britânica da Primeira Guerra. Morreu em 1921, amargurada.

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